“É gratificante saber que o nosso trabalho vai melhorar a vida de alguém”

É agricultor por herança familiar mas também de coração. Por isso não hesitou em formar-se em Engenharia Agrícola na UTAD. É aqui que trabalha no Laboratório de Solos e Plantas, que ajuda os agricultores a melhorarem os seus terrenos, mas no final do dia despe a bata e mete as mãos na terra, esta agora sua e da qual extrai frutos. Da aldeia onde cresceu à sua marca foi um instante, esta perpetua as suas raízes nos produtos transformados com a ajuda da mulher.


Gostávamos de o conhecer melhor. Fale-nos um pouco de si.

Sou de uma aldeia pequenina “Covêlo” que fecha a sul o concelho de Vila Pouca de Aguiar e abre a norte o concelho de Vila Real. Nasci em Vila Nova de Gaia, porque os meus pais trabalhavam lá, mas vim para esta aldeia com “mesinhos” e fui criado lá com os meus pais e avós que são do campo e viviam da agricultura. Ao crescer nesse meio ganhei um gosto enorme pela agricultura (sorri). Sempre quis ser agricultor e quando foi para me candidatar à universidade não pensei em mais nenhum curso que Engenharia Agrícola. Foi esta a minha primeira opção na UTAD e única. Entrei no curso e conheci a minha esposa, também no mesmo curso e mesmo gosto pela agricultura. Mesmo antes de finalizar o curso vim trabalhar para o Laboratório de Solos e Plantas, com o Professor Coutinho porque tinha de arranjar dinheiro para o curso. Sempre paguei os meus estudos. Comecei a trabalhar por horas no 4º ano, fiz o estágio com ele e fiquei cá.

Trabalha portanto num laboratório ligado à área agrícola na UTAD. Gostaríamos de saber mais sobre atividade do laboratório.

Estou no Laboratório desde 2000. Este presta serviços para o exterior e também dá apoio à investigação. O agricultor traz o solo e nós fazemos as análises. Determinamos o ph, o fósforo, potássio, matéria orgânica… e dizemos-lhe que, para que a cultura tenha o máximo de produtividade, deverá adicionar tantos kg de calcário, de azoto, de fósforo, de potássio.

Ajudam portanto os agricultores a exponenciar os seus terrenos. Têm tido feedback positivo?

Sim! O que nos dá imenso gosto ao trabalharmos é sentir nos agricultores esse agradecimento. Aqui há uns dias um agricultor que sempre fez agricultura como os pais o ensinaram disse-nos que nunca tinha tido tanta produção por ter seguido a nossa sugestão de fertilização. É gratificante saber que o nosso trabalho vai melhorar a vida de alguém.

O que faz na sua atividade diária e o que mais gosta nesta?

O que mais gosto mais é contatar com os agricultores, com as Associações [de agricultores], de cativar clientes. Porque a principal função que tenho no Laboratório é cativar clientes. Nós queremos ter um volume grande de trabalho. Este ano já analisámos aproximadamente: 10.000 amostras de solos, 4.000 de plantas e 1.000 de águas, temos um volume grande de amostras, mas queremos mais.

Tendo em conta que está na UTAD há cerca de 16 anos e que já conhece bem a instituição, o que mais gosta na UTAD?

Conheço a UTAD desde pequenino, porque moro perto. Adoro o Campus, toda a botânica que contém. Gosto do meio pequeno que permite que os cursos interajam muito entre eles… em que quando acaba o curso ficam relações fortes. E o gosto que tenho quando ando pelo país ver alunos ou ex-alunos da UTAD que se identificam com orgulho. Dá-nos um gosto enorme sentir que as pessoas ficam para sempre ligadas à UTAD.

E alguma vez pensou sobre uma ideia para uma UTAD melhor?

Nota-se que a UTAD desde há uns anos para cá deu um salto enorme em visibilidade para o exterior na imagem, em tentar que os cursos sejam mais atrativos em enquadrar bem os alunos… uma ideia melhor seria, à semelhança do que faz o Laboratório de Solos e Plantas, a UTAD estar mais ligada ao tecido empresarial, ao exterior em termos de prestação de serviços, poderia ser feito algo mais nesse sentido.

Já percebemos que é um agricultor convicto e que a agricultura faz parte daquilo que é e das suas raízes. E também sabemos que tem uma atividade que desempenha fora da UTAD. Quer falar-nos dela?

Sim! (sorri) eu sou um agricultor de calos nas mãos. Porque há quem viva da agricultura… eu gosto de ser agricultor! Eu gosto de produzir e de saber que quem consome os meus produtos quer consumir de novo. Sempre quis ter algo meu. Quis que os campos que herdei ficassem bonitos e produtivos. Então candidatei-me a um projeto Jovem agricultor com apoios comunitários e fiz uma plantação de pequenos frutos… mirtilos, morangos, framboesas, amora, entre outros. Como estou afastado dos grandes centros de consumo, senti a necessidade de criar uma marca e de transformar os meus produtos. Criei a marca “Covello” que achei imensa piada porque amo a minha aldeia. Adotámos o nome conforme constava numa escritura antiga de uma propriedade nossa e registei a marca.

O desenvolvimento da marca foi feito por uma empresa incubada no ninho de empresas da UTAD, não foi?

Sim. Devo a imagem à Lateral uma empresa que, como eu, estava incubada na UTAD. Foram eles que criaram a marca e toda a imagem dos meus produtos transformados.

Transforma os frutos que produz em produtos que são já uma imagem de marca, fale-nos um pouco deles e também de alguns projetos que tenha em desenvolvimento.

Além de vender fruta em fresco fazemos a transformação com a ajuda da minha esposa, que no fundo é a locomotiva desta empresa. Porque eu faço o contato com o cliente, mas a transformação é ela que faz (sorri). Fazemos compotas, desidratamos fruta. Em colaboração com a Professora Arlete da UTAD estamos a desenvolver um vinho de mirtilo. A nível nacional é um projeto pioneiro que está em fase final. Além do vinho, estou também a tentar fazer uma cerveja de mirtilo. Temos já bons indicadores.

Onde podemos encontrar os seus produtos?

Vendo os meus produtos em feiras, mercados, e festas de aldeias, vilas e cidades de trás-os-montes. Em Lisboa nos mercados gourmet e também no Porto. Tenho também um site com venda online [www.covello.pt].

E como consegue conciliar a exigência da sua atividade profissional com a de agricultor?

Sou uma pessoa feliz e realizada e quando fazemos o que gostamos temos sempre tempo (sorrisos).

Veja também esta entrevista em vídeo: [VER]
Entrevista: Rosa Rebelo | GCI – Gabinete de Comunicação e Imagem
Fotos e Vídeo (realização): José Paulo Santos | GCI – Gabinete de Comunicação e Imagem