“Gosto de idealizar e criar. Tenho ideias e gosto de as pôr em prática»

Márcio José Lourenço da Silva é funcionário do Departamento de Geologia. Entrou para a UTAD há 20 anos. Começou como mecânico nas oficinas, e, oito anos depois, passou para o Laboratório de Geologia, onde realiza um trabalho notável na confeção de lâminas delgadas. O gosto pelas rochas e o seu talento natural para os trabalhos manuais e design fizeram dele, simultaneamente, um artesão de grande qualidade. Nas horas libertas da sua rotina profissional, elabora peças de arte que enchem os olhos a quem as observa: anéis, brincos, candeeiros, porta-joias, miniaturas de espigueiros, relógios, etc., tudo em pedra. Entretanto, procura concluir o curso de Arquitetura Paisagista.


Conte um pouco da sua história de vida. Como foi a sua infância e juventude?

Nasci em Fortunho, freguesia de S. Tomé do Castelo, uma aldeia a dez quilómetros de Vila Real. Fiz a minha escola primária toda lá, depois vim estudar para a Escola Monsenhor Jerónimo do Amaral e a seguir para a Escola Morgado de Mateus, onde fiz o 9º ano. Vim então numas férias trabalhar para a UTAD, para as oficinas. Vim por intermédio do Engº Terêncio, que me arranjou aqui um lugar para trabalhar nas férias. Trabalhei como mecânico. Acabadas as férias, como tinha parado os estudos, houve a possibilidade de continuar nesse trabalho e fiquei. E ali aprendi muito. Comecei a lavar os carros, aspirava, depois já fazia mudanças de óleo, revisões e fui passando a fazer trabalhos mais específicos da mecânica. Neste meio tempo fui fazer a tropa em Chaves e, acabada a tropa, voltei para as oficinas. Ao fim de oito anos, surgiu a possibilidade de vir para o Laboratório de Geologia, a fazer lâminas delgadas. Comecei nesse trabalho e, ao fim de dois meses, já conseguia adaptar-me bem e fazer uma lâmina sozinho. Voltei então a estudar à noite, no liceu, onde fiz o 12º ano. Já estou neste serviço há 12 anos. Parei dois ou três anos os estudos, até que me meti outra vez a estudar, pelos maiores de 23, aqui na UTAD. Estou a tirar Arquitetura Paisagista. Faltam-me duas cadeiras para acabar. Já podia ter acabado, mas como tenho tido bastante trabalho, pois somos dos poucos laboratórios a nível nacional a executar este trabalho com a qualidade que se pretende, ainda não consegui.

Fale-nos da sua atividade na UTAD.

Faço lâminas delgadas. No fundo, é preparar amostras de rochas em que a luz as consiga atravessar, para depois serem vistas ao microscópio. Servem para doutoramentos quando se está a estudar as rochas de uma determinada área. Neste momento, estamos a fazer muito trabalho para outras universidades, pois os seus técnicos estão a reformar-se e, por vezes, recorrem aos nossos serviços, pois são serviços de qualidade e muito reconhecida lá fora.

Do que mais gosta na sua actividade?

Do que mais gosto é mesmo do ambiente. Tenho um excelente ambiente, tanto com os colegas de trabalho, como com os docentes. Nunca tive problemas com ninguém. Faço o meu trabalho direitinho e, chego ao fim, está o trabalho sempre impecável. Por isso, a relação que tenho com toda a gente é da melhor.

E o que nos pode dizer sobre os seus hobbies fora da UTAD?

Neste momento estou-me a dedicar aos anéis. Misturo a madeira com a pedra.

Já que trabalho com rochas, facilmente as adquiro: rochas que me dão, ou bocadinhos que sobram, eu vou-os transformando em pequenas peças de arte, dou-lhes uma nova vida, juntamente com madeira que encontro por aí, já seca. Dou-lhes vida, tanto às pedras como à madeira. Tenho feito também candeeiros todos em pedra, caixinhas porta-joias e relógios, tudo em pedra, mas também brincos, passe-partouts, cinzeiros, miniaturas de espigueiros e diversas esculturas em miniatura.

Ganhou esse gosto desde que entrou para esse setor na UTAD?

Eu sempre gostei de trabalhos manuais. Gosto de idealizar sempre alguma coisa na cabeça e depois criar. Já na escola primária desenhava, e lembro-me que alguns desenhos chegaram a estar expostos na Câmara.

Como vende e promove esse trabalho?

Tenho duas páginas no facebook, uma pessoal [www.facebook.com/marcio.silva.9400] e outra pública [www.facebook.com/Márcio-Silva-Designer-Rings-178479979257464]. Divulgo ali e há sempre alguém que me aparece a encomendar, ou diz que gosta deste ou daquele modelo, mas com aquela pedra e eu tento fazer como me é pedido. Escolhi o curso de Arquitetura Paisagista porque gosto de idealizar e criar. Tenho ideias e gosto de as pôr em prática.

Que ideias tem para uma UTAD melhor?

Uma melhor organização dos espaços. Às vezes parece tudo muito desorganizado no que toca aos estacionamentos. Estaciona-se muito à toa. Deve haver mais rigor. Também acho que se devia divulgar mais o espaço da Universidade, o nosso jardim. Já que temos um jardim tão bonito, devia-se divulgar mais para atrair mais visitantes, mesmo ao fim de semana, para que o pessoal de fora venha conhecer a nossa Universidade, visitar, passear.

Veja também esta entrevista em vídeo: [VER]
Entrevista: Produção de conteúdos GCI – Gabinete de Comunicação e Imagem
Fotos e vídeo: José Paulo Santos | GCI – Gabinete de Comunicação e Imagem