«Cá dentro, na UTAD, poderia promover-se mais a felicidade e o bem-estar entre as pessoas»
É psicóloga clínica e professora auxiliar no Departamento de Educação e Psicologia na UTAD, com uma carreira notável na psicologia clínica junto de Instituições Particulares de Solidariedade Social, trabalhando com crianças e jovens em risco, lar de idosos e também em cuidados de saúde primários e diferentes clínicas particulares. Especialmente meritória é ainda a sua atividade de voluntariado, no acompanhamento de doentes oncológicos e seus familiares. Nesse âmbito, dá consultas gratuitas junto de várias associações e ajuda a formar novos voluntários, capacitando-os igualmente para esta tão nobre atividade.
Conte-nos um pouco da sua história.
Sou natural de Vila Flor, no entanto a terra que me viu crescer, e de onde saí aos 18 anos, é Torre de Moncorvo. Tive um período de três anos fora do país, pois os meus pais emigraram para a Holanda, onde tinha toda a minha família materna. Tive uma infância feliz, mas a infância que vivi na Holanda deixou-me as recordações mais bonitas que conservo. Em Vila Flor, mais propriamente na aldeia de Samões, de onde é natural o meu pai, cresci muito ligada à terra, com os meus avós que eram agricultores muito ligados à sabedoria do cultivo da terra, e isso foi uma mais-valia para mim, porque sempre gostei muito da natureza e do ritmo da natureza, pelo que foi um contributo muito positivo no alicerçar da minha personalidade e dos meus valores. Fiz a escola primária e os estudos seguintes em Torre de Moncorvo, de onde saí aos 18 anos para estudar em Lisboa, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, onde me licenciei em Psicologia Clínica e do Aconselhamento. Mais tarde, fiz o processo de doutoramento na Universidade de Salamanca, em Psicologia Clínica e da Saúde, que terminei em 2012 com uma tese no âmbito do cancro da mama, que acabou, grande parte dela, por dar origem ao livro Cancro da Mama: dores do sofrimento feminino na experiência com a doença. Vim para a UTAD em 2003, para o então Pólo de Miranda do Douro, e em 2008 transitei para a UTAD em Vila Real, onde hoje sou professora auxiliar no departamento de Educação e Psicologia.
Fale-nos da sua atividade na UTAD
Leciono maioritariamente no curso de Psicologia e também no de serviço Social, tendo passado por outros cursos: Teatro, Reabilitação Psicomotora, Educação Básica e Desporto. Todas as unidades curriculares incidem muito na psicologia clínica, na psicologia da saúde e na psicologia oncológica. Temos na UTAD, e isto é importante ser dito, a única unidade curricular no país em psicologia oncológica e será a primeira a ter o curso de pós-graduação em psico-oncologia. Na UTAD faço também investigação nesta área, oriento teses de mestrado em psicologia clínica e os alunos procuram-me muito para fazerem trabalhos de investigação no âmbito da psicologia oncológica.
Do que mais gosta na sua atividade?
Gosto muito da atividade que tenho, a docência. E do que mais gosto na docência? Gosto não só de partilhar o conhecimento, mas também de fomentar o espírito crítico nos alunos. Considero que tenho um grande dever que é preparar psicólogos para ajudarem pessoas, e, portanto, espero ajudá-los bem a arrumar a sua casa para que possam ajudar a arrumar a dos outros, para que possam ser humanos e cientificamente bem preparados.
Gostaríamos de conhecer melhor a sua atividade fora da UTAD, especialmente no domínio do voluntariado.
Tenho sido muito dedicada desde sempre ao voluntariado. Tive uma participação muito ativa em termos de voluntariado essencialmente no âmbito da psico-oncologia na Associação “Leme” em Torre de Moncorvo, com consultas gratuitas para doentes oncológicos e seus familiares, uma vez que as pessoas iam fazer os seus tratamentos ao Porto e depois era preciso que fossem acompanhadas na sua terra.
Essencialmente, o meu trabalho voluntário, quer na Liga Portuguesa contra o Cancro, quer aqui na Associação “Laços para a Vida”, é sempre de consulta. Estou também a oficializar a minha colaboração com uma associação com sede em Lisboa, que é a AMARA – Associação pela Dignidade na Vida e na Morte, que tem feito muitos encontros e muita formação ao nível do voluntariado, isto é, a preparar voluntários no sentido de os capacitar, dentro destas abordagens mais de fim de vida. Dou ainda formação voluntária na “Laço”, num projeto que esta associação tem, denominado “Criar Laços na Comunidade”, ministrando o workshop “Cuide de Si”
Pode partilhar uma ideia que tenha para uma UTAD melhor?
Qualquer comunidade é feita de pessoas. Cá dentro, na UTAD, poderia promover-se mais a felicidade e o bem-estar entre as pessoas. Nesse sentido, já tive oportunidade de promover aqui um workshop de agentes ativos da felicidade. Sabemos que os nossos empregos também têm muitos conflitos internos e externos, pelo que se deveria criar maior solidariedade, para que nos conhecêssemos todos um pouco melhor uns aos outros e que se pudesse fazer mais ações de partilha e de conhecimento entre todos dentro da UTAD, tirando maior partido da envolve da Universidade, jardim botânico e espaços verdes.
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