“O nosso campus é lindíssimo. É único. É um privilégio poder trabalhar num local assim.”
Fale-nos um pouco de si, do seu percurso de vida.
Nasci em Angola, de onde vim muito pequena. Já sou a quinta geração do lado materno nascida em Angola. Viemos para o distrito de Viseu, lá estudei até ao 12º ano, depois fiz o Conservatório de Teatro em Lisboa, quando terminei comecei a dar aulas no ensino secundário, depois continuei os meus estudos, fiz uma pós-graduação em Lisboa, um mestrado, e fui fazer o doutoramento para Faculdade de História e Geografia em Salamanca. Nessa altura, já estava a trabalhar no Politécnico da Guarda e depois fui convidada para trabalhar aqui, na UTAD, no curso de Teatro e Artes Performativas. Do ponto de vista pessoal, tenho dois filhos, somos uma família grande, muito ligada às tradições e acho que isso também passa para o meu trabalho. O que me define, e eu digo-o muitas vezes: sou de todo o lado e não sou de lado nenhum, porque me adapto muito bem a mudar de sítio.
Em concreto, o que faz na UTAD e há quanto tempo?
Na UTAD, estou desde 2005. E estou a trabalhar mais particularmente com os cursos de Educação Básica e de Teatro e Artes Performativas. Dou as disciplinas dentro dessas áreas e, paralelamente, trabalho com os alunos, já não dentro do conceito de sala de aula, mas a apoiar projetos extra-aula em que os alunos também estão envolvidos.
Que tipo de projetos?
De teatro, encenação e peças, projetos dos alunos em que precisam às vezes de ter orientador de fora, mesmo que não seja do ponto de vista oficial, e também na parte da caracterização e maquilhagem.
Do que mais gosta na sua atividade?
Do que mais gosto são os alunos e de tudo o que faço com eles. São a razão de eu existir na UTAD. Só sou professora na UTAD porque tenho uma relação com os alunos e porque sei que eles confiam em mim e querem fazer coisas comigo. Uma relação que muitas vezes não fica só na sala de aula, sai cá para fora em trabalho.
Acompanha-os depois de terminarem os cursos?
Sim, regularmente. Eles, muitas vezes, quando vão fazer mestrados fora, noutras instituições, vêm-me pedir para ver os trabalhos, para dar uma ajuda, para ver se são projetos viáveis e o que é quer eu posso acrescentar. Em grande parte dos casos, às vezes também sou convidada para ser orientadora das suas teses noutras instituições.
Do que mais gosta na UTAD?
Há uma coisa em que acho que nós somos privilegiados. É o nosso campus. O nosso campus é lindíssimo. É único. É um privilégio poder trabalhar num local assim, em que se abre uma porta e temos uma variedade florestal à nossa volta, podemos ver um pássaro, podemos ver um animal, podemos acrescentar aquela parte lúdica ao nosso trabalho que é necessária muitas vezes. Basta abrir a porta e a nossa mente vagueia.
Fale-nos sobre a atividade que realiza fora da UTAD e que, certamente, muito a realiza como pessoa.
O que me realiza é o trabalho de voluntariado. Há muitos anos que faço voluntariado em associações, por exemplo em associações para pessoas com deficiência na área da caracterização, na área da expressão dramática. E faço esse voluntariado para os técnicos e para os utentes. E quem diz nessas associações, diz também em escolas do ensino secundário, que muitas vezes me chamam porque têm projetos de teatro e precisam de alguém para dar apoio. Sigo uma pedagogia criada pelo Professor John McGee, que é o Gentle Teaching, cuja base é: para fazeres coisas com as pessoas, as pessoas têm que confiar em ti e saber que estão protegidas contigo, e assim quererem trabalhar contigo e partilhar aquilo que fazem contigo com os outros.
Pode dar-nos uma ideia para uma UTAD melhor?
Do que eu sinto falta e os meus alunos sentem falta também é de mais espaços disponíveis para os alunos poderem trabalhar em grupo fora das atividades letivas. Por exemplo, salas que eles soubessem que estão livres e que pudessem estar aí até um horário mais alargado. Isto é, a UTAD não encerrar às 8, mas haver determinados locais onde os alunos pudessem trabalhar para lá dessa hora. Há trabalhos de investigação em que têm de trabalhar em grupo. Muitas vezes acabam por se reunir nas casas de uns e outros. Trazê-los para a UTAD dá vida à instituição. Ela não morre durante a noite.
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