“Há aqui gente muito amiga, muito competente”

É apaixonado por fotografia, gosto que nasceu em Moçambique e que desenvolveu e cimentou em Portugal. Desportista convicto veste a camisola UTAD em diversas atividades. Gosta da natureza, das pessoas e de partilhar conhecimento. Sonha com uma casa de pessoal, para reunir aqueles que construíram e os que ainda constroem a Universidade, mas também com um observatório de aves neste campus que tanto gosta de fotografar.


Gostávamos de o conhecer melhor. Fale-nos um pouco de si.

Nasci em Vila Real. Ainda na adolescência fui com os meus pais para Moçambique de onde vim no 25 Abril. Conclui aqui [Vila Real] o 12º ano. Entretanto licenciei-me e fiz mestrado em Comunicação e Multimédia, fiz ainda uma pós-graduação em Gestão Pública e estou numa fase adiantada da tese de doutoramento. Trabalho na UTAD há mais de 30 anos e fui praticante de desportos como atletismo, ciclismo e futebol. No atletismo fui campeão nacional de corta-mato escolar, no futebol joguei nas camadas jovens do Vila Real, joguei futsal, inclusive representei a UTAD em alguns torneios. Há um grupo de pessoas que se reúne há 25 anos na UTAD para jogar futsal e conviver. No ciclismo, concretamente no BTT competi no campeonato regional do Minho, onde fui vice-campeão (risos), e o meu hobby principal é a fotografia.

E quando chegou à UTAD? Fale-nos um pouco sobre o seu percurso na instituição.

Em 85 integrei o projeto de desenvolvimento regional de Trás-os-Montes em engenharia agrícola, depois passei para o setor de audiovisuais que me dizia algo mais, porque estava ligado à fotografia e vídeo, e onde estive alguns anos. Depois convidaram-me para vir para a Escola de Ciência e Tecnologia, onde sou responsável técnico pelos laboratórios de artes visuais e multimédia e onde também leciono, na licenciatura e mestrado de Comunicação e Multimédia. Na licenciatura de Ciências de Comunicação, colaboro na unidade curricular de Animação e Multimédia. Cooriento alguns alunos de mestrado e, no laboratório, oriento estágios profissionais, faço divulgação dos nossos cursos através de workshops e efetuo demonstrações de atividades do que se faz nos nossos cursos.

Como responsável técnico pelos laboratórios, como orientador de estágios e na lecionação, como ajuda os visitantes e os estudantes a perceberem melhor a imagem e a fotografia?

Atualmente os jovens acham que têm um equipamento bom e que isso é que vai produzir as imagens. Nós tentamos desmontar essa ideia provar-lhes que não é o equipamento, mas parte técnica, estética, e conceptual de criar uma imagem, de a produzir. Uma imagem tem de contar uma história, tem de ter conteúdo. Nós queremos mostrar aos alunos que para produzir, quer a fotografia quer vídeo, têm de cruzar diversas áreas, design, regras de composição…Nós tentamos desmontar que não é a máquina que pensa, mas somos nós que pensamos por ela.

Do que gosta mais nas atividades que desempenha?

Partilhar conhecimento, experiências, envolver os alunos em atividades, da relação que se cria com eles, e que vai muito além do percurso académico. De ver o sucesso deles na área da multimédia, de ver os prémios que vão ganhando na fotografia, no cinema e que nos dá muito prazer acompanhar. Escolherem-me como um dos orientadores dos seus mestrados e de trabalhar com uma equipa muito dinâmica, que dá muito gosto trabalhar assim.

Tendo em conta que está na UTAD há cerca de 30 anos, onde já teve diversas funções, o que significou para si ter sido convidado para ser docente colaborador?

Significa o reconhecimento de verem em mim a competência e valências para desempenhar a função. Significa também que tive bons mestres, com quem partilho agora essas atividades, e que a UTAD dá essa oportunidade a quem está cá e quer ir mais além, o que pode ser vantajoso para a UTAD.

Considera que os alunos veem de forma diferente um docente de carreira e um docente colaborador?

Não me parece! Eles querem alguém que os motive, que os ensine. Mas a responsabilidade é muito maior! Claro que exigem mais de nós. Não só eles, mas toda a gente… porventura somos mais observados. Não sinto isso.

Tendo em conta que vive tanto a instituição a diversos níveis, o que mais gosta na UTAD?

Gosto muito do campus e faço muito gosto em fotografá-lo. Depois as pessoas que cá trabalham, quer sejam docentes ou não docentes. Há aqui gente muito amiga, muito competente. A dinâmica que é impressa na UTAD e que esta equipa reitoral e a administração têm potenciado. A proximidade de docentes, não docentes e alunos que é já uma imagem de marca da instituição.

Alguma vez pensou numa ideia para uma UTAD melhor?

A UTAD está no bom caminho. O Ecocampus vai ser uma realidade, o que me agrada. Dentro deste maravilhoso campus com uma diversidade impressionante de espécie de aves, gostava de construir um abrigo, um observatório para que fotógrafos e pessoas comuns pudessem fotografar e observar aves e que poderia até servir como laboratório para o ensino secundário, primeiro ciclo, para as crianças virem aqui e colocarem algumas questões sobre as aves… Também gostava de ver aqui uma casa de pessoal que pudesse juntar as pessoas – muitas não se conhecem – e trazer também os antigos docentes e não docentes que já se aposentaram e que perderam a ligação aos colegas e à instituição. Seria uma forma de continuarem a ter um sentimento de pertença a esta família, a esta casa que ajudaram a construir e, a partir daí, criar-se atividades lúdicas, culturais… seria uma mais-valia para todos nós. Não sei se seria possível… mas na Quinta Nª Senhora de Lurdes existem dois edifícios que poderiam ser um espaço para criar a casa de pessoal.

Os edifícios a que se refere são muito bonitos em termos arquitetónicos, mas precisam ser recuperados… A recuperação poderia ser um primeiro passo para as pessoas se envolverem na criação desta casa de pessoal?

Isso seria fantástico! Se nós pensarmos que temos pessoas aqui com competências em várias áreas, iam sentir-se mais ligadas porque fariam parte da recuperação desse espaço.

Sabemos que, que tem uma paixão e que tem integrado alguns concursos e ganho alguns prémios. Quer falar-nos um pouco sobre ela?

Essa paixão é a fotografia que já vem da minha infância e que se revelou desde a altura em que estive em Moçambique, onde conheci um amigo dos meus pais que era fotógrafo e que tinha uma loja de fotografia. Ele levou-me um dia para o seu estúdio… e fiquei viciado. Fiz alguma fotografia com as câmaras de fole e, a partir daí a paixão foi aumentando. Fui conhecendo outras pessoas mais velhas que também faziam fotografia e fui fazendo um percurso que descorei por causa do desporto. Mas desde que tive um problema de saúde dediquei-me mais ainda à maior paixão de sempre, a fotografia. Relativamente aos prémios, eu nem costumo ser dado a prémios… são mais os amigos e, sobretudo a minha esposa, a empurrar-me para concorrer (risos) e por acaso tem corrido bem. Aquilo que mais gosto, para haver um reconhecimento daquilo que faço, é o feedback que me dão as pessoas, os convites para participar em concursos nacionais e internacionais, a publicação em revistas – tenho uma publicação na National Geographic – em encontros de fotografia, em exposições… isso sim é o meu maior reconhecimento, não tanto os prémios. Não é que não me agrade ganhar um prémio, mas sim esse é o meu maior reconhecimento.

Pode ser considerado um fotógrafo de natureza?

Faço mais fotografia de natureza. Eu gosto de fotografar em todas as vertentes, até como forma de me expressar, de dar a minha visão do mundo que me rodeia… que é tudo. Mas como sou grande apaixonado pela natureza, aquilo que fotografo mais é a natureza, muito virado para a macro fotografia e aves.

Não fotografa pessoas?

Gosto de fotografar pessoas, de retrato e fotografia de moda. Adorava ter a possibilidade de fotografar outros povos, com características muito próprias.

Africa, por exemplo?

(Entusiasmado) Africa! Sobretudo paisagem! Também as pessoas, as cores… tudo é diferente, tudo tem um caráter muito próprio… e tirar para a imagem a parte psicológica, o caráter… adorava ter essa possibilidade. India também! Aquela diversidade, aquelas cores… era um sonho…

O que sente quando fotografa?

(Suspira profundamente) Sinto uma calma, uma ligação muito forte ao motivo fotográfico e muita liberdade… Sinto que estou a comunicar… e faz-me bem. Serve para me libertar da tensão da semana de trabalho… é um escape, uma terapia.

Gosta mais do momento em que capta a imagem ou do produto da captação?

Eu prefiro fazer a imagem, criar a imagem, escolher os detalhes. É isso que faz a fotografia… escolher planos, perspetivas diferentes, é a minha visão daquele local, pessoa, motivo. O resultado nunca gosto. É verdade! Estou a dizer isto com muita sinceridade. Há sempre algo que falhou… a luz não era a ideal, os elementos… Há vários fatores… não escolhi a melhor perspetiva, o melhor ângulo… Vou várias vezes ao mesmo local e vejo sempre coisas novas, diferentes perspetivas… e ando sempre à procura da tal imagem…

Define-se mais como um fotógrafo racional ou emocional?

Sou mais emocional. Embora coloque princípios e regras de estética e composição, dispo muitas vezes o racional para ir ao encontro de um conceito. Porque se nos amarramos demasiado à regra, não estamos a ser nós próprios, não estamos a ser criativos. Se eu consigo transmitir a minha mensagem, o meu conceito quebrando as regras… vou fazê-lo. É a única forma de eu comunicar.

Já alguma vez fotografou algo em que o resultado o tenha surpreendido ou deixou de fotografar algo incrível, porque não tinha câmara?

Eu gostava de ter sempre na minha cabeça e nos meus olhos a câmara a disparar. Por onde circulo, estou sempre a pensar em fazer fotografia ou a captar… e já perdi momentos fantásticos por não ter uma câmara. E fico revoltado comigo próprio, porque me apetece andar sempre com uma câmara… mas não é possível. Tenho uma imagem, que foi uma daquelas que ganhou um concurso e teve destaque na revista National Geographic, em que fui com um grupo de alunos para o Alvão [Serra] fazer Astrofotografia. Nós não queríamos fazer só fotografia das estrelas, queríamos uma simbiose com a natureza… a determinada altura apercebi-me que um de nós estava a ser projetado numa rocha. Lembrámo-nos de procurar uma rocha maior e mais lisa e, após seguramente 30 minutos a procurar nos montes, encontrámos. Colocámos uma lanterna em cima de uma pedra e fizemos a projeção da silhueta na rocha. Após uma semana surgiu o concurso, enviei a fotografia e ganhámos. Foi uma daquelas fotografias que, quando foi concebida, nunca pensámos que pudesse ganhar um concurso.

A fotografia é uma companheira? Dá muito trabalho?

Sim, é uma companheira. O trabalho é por prazer. É uma companheira com que me levanto e deito, estou sempre a pensar nela. É uma paixão muito forte!

Veja também esta entrevista em vídeo: [VER]
Entrevista: Rosa Rebelo | GCI – Gabinete de Comunicação e Imagem
Fotos e Vídeo (realização): José Paulo Santos | GCI – Gabinete de Comunicação e Imagem